Hoje celebramos uma
das grandes festas do Ciclo de Natal - a Manifestação do Senhor (“Epifania” em
grego), onde comemoramos o fato de que Jesus foi manifestado, não somente ao
seu próprio povo, mas a todos os povos e nações, representados pelos Magos do
Oriente. Embora a festa tenha muita popularidade folclórica, também proclama
uma grande verdade da fé - que a salvação em Jesus é para todos os povos, sem
distinção de raça, cor ou religião. Retomando a grande intuição do profeta
Isaías, celebramos hoje a salvação universal em Jesus.
O texto de hoje é
altamente simbólico - usa uma técnica da literatura judaica chamada “midraxe”,
ou seja, uma releitura de passagens bíblicas, com o intuito de atualizá-las.
Assim, Mateus quer ensinar algo sobre Jesus, usando figuras e símbolos tirados
de diversos textos do Antigo Testamento. Por exemplo:
- Vêm os magos (nem
três, nem reis!) buscando o Rei dos Judeus. Esses magos lembram os magos que
enfrentavam e foram derrotados por Moisés (Êx 7, 11.22; 8, 3.14-15; 9,11) e
acabaram reconhecendo o poder de Deus nas maravilhas feitas por Ele.
- A estrela é sinal
da vinda do Messias, relendo a profecia de Balaão em Nm 24, 17.
- O menino nasce em
Belém, conforme a profecia de Miquéias (Mq 5, 1)
- Os presentes
lembram as profecias de Segundo e Terceiro-Isaías, e dos Salmos, sobre os estrangeiros
que viriam a Jerusalém trazendo presentes para Deus (Is 49, 23; 60,5; Sl 72,
10-11).
- Herodes, como o
Faraó, massacra os filhos do povo de Deus (Êx 1, 8.16).
O texto chama a
atenção pelas reações diferentes diante do nascimento de Jesus. Os que deveriam
reconhecer o messias - pois são versados nas Escrituras - ficam alarmados, pois
para eles, opressores do povo através da religião e da política, Jesus e a sua
mensagem constituem uma ameaça. Outros, pagãos do oriente, buscando sem ter
certeza, arriscam muito para descobrir o verdadeiro Deus, e entregam-lhe
presentes, sinal da partilha, grande característica do Reino que Jesus veio
pregar.
Hoje em dia,
verificam-se as mesmas reações diante de Jesus e do seu Evangelho. Muitos
querem reduzir os eventos religiosos a algo folclórico com shows e cantos, mas
que de forma alguma possa questionar a nossa sociedade e os seus valores. Para
outros, o menino na estrebaria é um sinal do novo projeto de Deus, o mundo
fraterno, onde todas as pessoas de boa vontade têm que se unir, seja qual for a
sua raça, nação, gênero ou religião, para construir a fraternidade que Deus
quer.
Jesus não precisa de
presentes, mas, sim do nosso esforço na vivência do seu Reino. Na prática,
temos que optar - para a vivência religiosa vazia como a de Herodes e dos Sumos
Sacerdotes, ou pela mensagem libertadora do Menino de Belém, que convoca todas
as pessoas de boa vontade, sem distinção de raça, cultura ou tradição
religiosa, representados hoje pelos magos, para a construção do mundo de paz,
fraternidade e justiça, pois Jesus veio para que “todos tenham a vida e a
tenham plenamente.” (Jo 10, 10)
Pe. Tomaz Hughes, SVD