A festa de Cristo Rei, que
encerra o ano litúrgico, celebra, antes de mais, a soberania e o poder de
Cristo sobre toda a criação. As leituras que ouviremos fala que em Cristo, Deus
revela-Se; que Ele tem a supremacia e autoridade sobre todos os seres criados;
que Ele é o centro de todo o universo e que tudo tende e converge para Ele…
Isto equivale a definir Cristo como o centro da vida e da história, a
coordenada fundamental à volta da qual tudo se constrói. Cristo tem, de fato,
esta centralidade na vida dos homens e mulheres do nosso tempo, ou há outros
deuses e referências que usurparam o seu lugar? Quais são esses outros “reis”
que ocuparam o “trono” que pertence a Cristo? Esses “reis” trouxeram alguma
“mais valia” à vida dos homens, ou apenas criaram escravidão e desumanização? O
que podemos fazer para que a nossa sociedade reconheça em Cristo o seu “rei”?
Celebrar a Festa de Cristo Rei do
Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que Se impõe aos homens do
alto da sua onipotência e que os assusta com gestos espetaculares; mas é
celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força
desarmada do amor. A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a construir o
“Reino de Deus” – é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe
reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.
• À Igreja de Jesus ainda falta
alguma coisa para interiorizar a lógica da realeza de Jesus. Depois dos
exércitos para impor a cruz, das conversões forçadas e das fogueiras para
combater as heresias, continuamos a manter estruturas que nos equiparam aos
reinos deste mundo… A Igreja, corpo de Cristo e seu sinal no mundo, necessita
que o seu Estado com território (ainda que simbólico) seja equiparado a outros
Estados políticos? A Igreja, esposa de Cristo, necessita de servidores que se
comportam como se fossem funcionários superiores do império? A Igreja, serva de
Cristo e dos homens, necessita de estruturas que funcionam, muitas vezes,
apenas segundo a lógica do mercado e da política? Que sentido é que tudo isto
faz?
• Em termos pessoais, a Festa de
Cristo Rei convida-nos, também, a repensar a nossa existência e os nossos
valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos
parecem completamente ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de
títulos, de aplausos, de reconhecimentos? Diante deste “rei” que dá a vida por
amor, não nos parecem completamente sem sentido as nossas manias de grandeza,
as lutas para conseguirmos mais poder, as invejas mesquinhas, as rivalidades
que nos magoam e separam dos irmãos? Diante deste “rei” que se dá sem guardar
nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?
A Festa de Cristo Rei é, também,
a festa da soberania de Cristo sobre a comunidade cristã. A Igreja é um corpo,
do qual Cristo é a cabeça; é Cristo que reúne os vários membros numa comunidade
de irmãos que vivem no amor; é Cristo que a todos alimenta e dá vida; é Cristo
o termo dessa caminhada que os crentes fazem ao encontro da vida em plenitude.