Continuando nossa reflexão sobre a parábola do Rico e Lázaro
e a Fé nos ajuda a perceber a Luz que é Jesus e nos transfigurar com Ele.
2. O pecado cega-nos
A parábola
põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19).
Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado
apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado,
que usa. De facto, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro,
e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26).
O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa
um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive
porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v.
19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em
três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf.
Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).
O apóstolo
Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10).
Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e
suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um
ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao
nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o
dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que
não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.
Depois, a
parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade
vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a
aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está
prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da
existência (cf. ibid., 62).
O degrau
mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse
um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para
o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu
e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar.
Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o
pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.
Olhando
para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao
condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não
gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o
outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24)