A liturgia do 6º Domingo da Páscoa convida-nos a descobrir a
presença – discreta, mas eficaz e tranquilizadora – de Deus na caminhada
histórica da Igreja. A promessa de Jesus – “não vos deixarei órfãos” – pode ser
uma boa síntese do tema.
O Evangelho João 14,15-21, apresenta-nos parte do “testamento” de
Jesus, na ceia de despedida, em Quinta-feira Santa. Aos discípulos, inquietos e
assustados, Jesus promete o “Paráclito”: Ele conduzirá a comunidade cristã em
direção à verdade; e levá-la-á a uma comunhão cada vez mais íntima com Jesus e
com o Pai. Dessa forma, a comunidade será a “morada de Deus” no mundo e dará
testemunho da salvação que Deus quer oferecer aos homens. A comunidade cristã,
identificada com Jesus e com o Pai, animada pelo Espírito, é o “templo de
Deus”, o lugar onde Deus habita no meio dos homens. Através dela, o Deus
libertador continua a concretizar o seu projeto de salvação. A Igreja é, hoje,
o lugar onde os homens encontram Deus? Ela dá testemunho (em gestos de amor, de
serviço, de humanidade, de liberdade, de compreensão, de perdão, de tolerância,
de solidariedade para com os pobres) do Deus que quer oferecer aos homens a
salvação? O que é que nos falta – a nós, “família de Deus” – para sermos
verdadeiros sinais de Deus no meio dos homens?
A primeira leitura de Atos
8,5-8.14-17, mostra exatamente a
comunidade cristã a dar testemunho da Boa Nova de Jesus e a ser uma presença
libertadora e salvadora na vida dos homens. Avisa, no entanto, que o Espírito
só se manifestará e só atuará quando a comunidade aceitar viver a sua fé
integrada numa família universal de irmãos, reunidos à volta do Pai e de Jesus.
Às vezes, Deus tem que usar métodos drásticos para nos obrigar a sair do nosso
cantinho cómodo e levar-nos ao compromisso. Muitas vezes, os aparentes dramas
da nossa vida fazem parte dos projetos de Deus. É necessário aprender a olhar
para os acontecimentos da vida com os olhos da fé e aprender a confiar nesse
Deus que, do mal, tira o bem.
A segunda leitura da 1ª carta de
Pedro 3,15-18, exorta os crentes – confrontados com a hostilidade do mundo
– a terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a mostrarem o seu
amor a todos os homens, mesmo aos perseguidores. Cristo, que fez da sua vida um
dom de amor a todos, deve ser o modelo que os cristãos têm sempre diante dos
olhos. Diante das dificuldades, das propostas contrárias aos valores cristãos,
é em Cristo – o Senhor da vida, do mundo e da história – que colocamos a nossa
confiança e a nossa esperança? Ou é noutros esquemas mais materiais, mais
imediatos, mais lógicos, do ponto de vista humano?