A Palavra de Deus deste 5º
Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre o compromisso cristão.
Aqueles que foram interpelados pelo desafio do “Reino” não podem remeter-se a
uma vida cômoda e instalada, nem se refugiar numa religião ritual e feita de
gestos vazios; mas têm de viver de tal forma comprometidos com a transformação
do mundo que se tornem uma luz que brilha na noite do mundo e que aponta no
sentido desse mundo de plenitude que Deus prometeu aos homens – o mundo do
“Reino”.
No Evangelho, Jesus exorta os
seus discípulos a não se instalarem na mediocridade, no comodismo, no “deixa
andar”; e pede-lhes que sejam o sal que dá sabor ao mundo e que testemunha a
perenidade e a eternidade do projeto salvador de Deus; também os exorta a serem
uma luz que aponta no sentido das realidades eternas, que vence a escuridão do
sofrimento, do egoísmo, do medo e que conduz ao encontro de um “Reino” de
liberdade e de esperança.
A primeira leitura apresenta as
condições necessárias para “ser luz”: é uma “luz” que ilumina o mundo, não quem
cumpre ritos religiosos estéreis e vazios, mas quem se compromete
verdadeiramente com a justiça, com a paz, com a partilha, com a fraternidade. A
verdadeira religião não se fundamenta numa relação “platônica” com Deus, mas
num compromisso concreto que leva o homem a ser um sinal vivo do amor de Deus
no meio dos seus irmãos.
A questão essencial é esta: como
é que podemos ser uma luz que acende a esperança no mundo e aponta no sentido
de uma nova terra, mais cheia de paz, de esperança, de felicidade? Esta leitura
responde: não é com liturgias solenes ou com ritos litúrgicos espampanantes,
muitas vezes estéreis e vazios; mas é com uma vida onde o amor a Deus se traduz
no amor ao irmão e se manifesta em gestos de partilha, de fraternidade, de
libertação.
A segunda leitura avisa que ser
“luz” não é colocar a sua esperança de salvação em esquemas humanos de
sabedoria, mas é identificar-se com Cristo e interiorizar a “loucura da cruz”
que é dom da vida. Pode-se esperar uma revelação da salvação no escândalo de um
Deus que morre na cruz? Sim. É na fragilidade e na debilidade que Deus Se
manifesta: o exemplo de Paulo – um homem frágil e pouco brilhante – demonstra-o.
A força e a “sabedoria de Deus”
manifestam-se, tantas vezes, na fragilidade, na pequenez, na obscuridade, na
pobreza (como o exemplo de Paulo o comprova). Sendo assim, não nos parecem
ridículas e descabidas as nossas poses de importância, de autoridade, de
protagonismo, de brilho intelectual?
Aqueles que têm responsabilidade
no anúncio do Evangelho devem recordar sempre que a eficácia da Palavra que
anunciam não depende deles e que o êxito da missão não resulta das suas
qualidades pessoais ou das técnicas sofisticadas postas ao serviço da
evangelização: somos todos instrumentos humildes, através dos quais Deus
concretiza o seu projeto de salvação para o mundo… Para além do nosso esforço,
da nossa entrega, da nossa doação, das nossas técnicas, está o Espírito de Deus
que potência e torna eficaz a Palavra que anunciamos.
Ser cristão é também ser uma luz
acesa na noite do mundo, apontando os caminhos da vida, da liberdade, do amor,
da fraternidade… Eu sou essa luz que aponta no sentido das coisas importantes,
impedindo que a vida dos meus irmãos se gaste em frivolidades e bagatelas? Para
os que vivem no sofrimento, na dúvida, no erro, para os que vivem de olhos no
chão, eu sou a luz que aponta para o mais além e para a realidade libertadora
do “Reino”?
Atenção: eu não sou “a luz”, mas
apenas um reflexo da “luz”… Quer dizer: as coisas bonitas que possam acontecer
à minha volta não são o resultado do exercício das minhas brilhantes qualidades,
mas o resultado da ação de Deus em mim. É Deus que é “a luz” e que, através da
minha fragilidade, apresenta a sua proposta de libertação e de vida nova ao
mundo. O discípulo não deve, pois, preocupar-se em atrair sobre si o olhar dos
homens; mas deve preocupar-se em conduzir o olhar e o coração dos homens para
Deus e para o “Reino”.