A liturgia deste 6º Domingo garante-nos
que Deus tem um projeto de salvação para que o homem possa chegar à vida plena
e propõe-nos uma reflexão sobre a atitude que devemos assumir diante desse
projeto.
Na segunda leitura de 1 Cor 2, 6-10, Paulo apresenta o projeto
salvador de Deus (aquilo que ele chama “sabedoria de Deus” ou “o mistério”). É
um projeto que Deus preparou desde sempre “para aqueles que o amam”, que esteve
oculto aos olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou com a sua pessoa, as
suas palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na cruz (pois aí,
no dom total da vida, revelou-se aos homens a medida do amor de Deus e
mostrou-se ao homem o caminho. O projeto
de salvação que Deus tem para os homens, e que resulta do seu imenso amor por
nós, é um projeto que nos garante a vida definitiva, a realização plena, a
chegada ao patamar do Homem Novo, a identificação final com Cristo. Os crentes
são, em consequência deste dinamismo de esperança que o projeto de salvação de
Deus introduz na nossa história, pessoas que olham a vida com os olhos cheios
de confiança, que sabem enfrentar sem medo nem dramas as crises, as
vicissitudes, os problemas que o dia-a-dia lhes apresenta, e que caminham
cumprindo a sua missão no mundo, em direção à meta final que Deus tem reservada
para aqueles que O amam.
No entanto, Deus não força
ninguém: a opção pelo caminho que conduz à vida plena, ao Homem Novo, é uma
escolha livre que cada homem e cada mulher devem fazer. O que Deus faz é ladear
o nosso caminho de “sinais” (mandamentos) que indicam como chegar a essa meta
final de vida definitiva. Como é que eu percorro esse caminho: na atenção
constante aos “sinais” de Deus, ou na autossuficiência de quem quer ser o
responsável único pela sua liberdade e não precisa de Deus para nada? que leva
à realização plena).
A primeira leitura recorda, no entanto, que o homem é livre de
escolher entre a proposta de Deus (que conduz à vida e à felicidade) e a autossuficiência
do próprio homem (que conduz, quase sempre, à morte e à desgraça). Para ajudar
o homem que escolhe a vida, Deus propõe “mandamentos”: são os “sinais” com que
Deus delimita o caminho que conduz à salvação.
O texto levanta, também, a
questão da liberdade. A Palavra de Deus que aqui nos é proposta deixa claro que
Deus nos criou livres e que respeita absolutamente as nossas opções e a nossa
liberdade. Deus não é um empecilho à liberdade e à realização plena do homem.
Ele coloca-nos diante das diferentes opções, diz-nos onde elas nos levam,
aponta o caminho da verdadeira felicidade e da realização plena e… deixa-nos
escolher.
Atenção: a morte e a desgraça nunca são um castigo de Deus por nos
termos portado mal e por termos escolhido caminhos errados; mas é o resultado
lógico de escolhas egoístas, que geram desequilíbrios e que destroem a paz, o
equilíbrio, a harmonia do mundo, da família e de mim próprio.
O Evangelho Mt 5,17-37 completa a reflexão, propondo a atitude de
base com que o homem deve abordar esse caminho balizado pelos “mandamentos”:
não se trata apenas de cumprir regras externas, no respeito estrito pela letra
da lei; mas trata-se de assumir uma verdadeira atitude interior de adesão a
Deus e às suas propostas, que tenha, depois, correspondência em todos os passos
da vida.
Os discípulos de Jesus são
convidados a viver na dinâmica do “Reino”, isto é, a acolher com alegria e
entusiasmo o projeto de salvação que Deus quis oferecer aos homens e a
percorrer, sem desfalecer, num espírito de total adesão, o caminho que conduz à
vida plena.
Não podemos deixar, nunca, que as
leis (mesmo que sejam leis muito “sagradas”) se transformem num absoluto ou que
contribuam para escravizar o homem. As leis, os “mandamentos”, devem ser apenas
“sinais” indicadores desse caminho que conduz à vida plena; mas o que é
verdadeiramente importante, é o homem que caminha na história, com os seus
defeitos e fracassos, em direção à felicidade e à vida definitiva.
Texto retirado do site dos Dehonianos